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Projeto oferece aulas gratuitas de ioga a 70 alunos na Maré

Foto do escritor: Yoga na MaréYoga na Maré

Idealizado por professora, ele não tem qualquer apoio financeiro

Elis Bartonelli 27/12/2016 - 04:36

Aula na ONG Redes da Maré, na Nova Holanda: moradores em busca do equilíbrio emocional Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo




RIO - Cercada por dezenas de barracos, uma sala se transforma em um espaço de silêncio e concentração uma vez por semana. Aos poucos, é ocupada por pessoas que deixam suas casas para terem momentos de tranquilidade em meio ao frenético vaivém de uma das maiores comunidades do Rio.


— Aqui, na Maré, andamos sempre com medo. Nunca sabemos o que vai acontecer. A ioga tira minha tensão e me deixa mais consciente, me ensina a lidar melhor com o dia a dia — conta o estudante Lúcio Marques, de 19 anos.

O jovem é um dos cerca de 70 alunos do projeto Ioga na Maré, oferecido desde agosto de 2015 em quatro pontos do complexo de favelas. A ideia surgiu do desejo da professora Ana Olívia Cardoso de difundir os benefícios da prática a quem não pode arcar com o preço das aulas de diversos estúdios da cidade.


— O Complexo da Maré tem um ambiente de violência, uma história de violação dos direitos humanos. A ioga ajuda as pessoas a viverem melhor no universo em que estão inseridas. Um dos conceitos da prática é aceitar as circunstâncias, estar bem com você mesmo, mas sem ficar acomodado. Quando a pessoa está equilibrada, consegue superar as dificuldades do dia a dia — diz Ana Olívia.

A estudante de Letras da UFRJ Camila Mendes, de 24 anos, caminha meia hora da comunidade Vila do Pinheiro, onde mora, até a sede da ONG Redes da Maré, na favela Nova Holanda, um dos lugares que abrigam o projeto.

— Aqui, a ioga é um movimento de resistência. Aprendi que não podemos parar nossas vidas. Hoje, sou mais calma e penso antes de agir — afirma Camila.

O grupo conta com alunos de todas as idades. Eva tem apenas 7 meses e acompanha a mãe, a oceanógrafa Tatiane Ferreira, de 38 anos, em todas as aulas.

— Praticava quando estava grávida e agora trago ela comigo. Quero que minha filha fique calma e tenha equilíbrio quando crescer. Eva não vai deixar de conhecer a realidade da Maré, mas cabe a mim mostrar a ela outros caminhos — diz Tatiane.


PRECONCEITO, UM DESAFIO

Além da violência que, vez ou outra, atrapalha o andamento das aulas, o Ioga na Maré já enfrentou dificuldades por conta de preconceito.

— Muitas pessoas confundem ioga com religiosidade. Perdi uma aluna que, mesmo adorando as aulas, foi obrigada a parar porque a prática não é aceita em sua igreja — conta Ana Olívia.

O trabalho de Ana Olívia é voluntário e o Ioga na Maré não conta com recursos próprios. Mesmo assim, o projeto engrenou: já teve até fim de semana de retiro para meditação na Região Serrana. A maior parte dos custos foi bancada com a venda de almofadas terapêuticas, uma iniciativa de um grupo de alunas.





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